sexta-feira, 15 de junho de 2012

As artes marciais e a meditação – Parte 2


Por Julio César de Castro Ferreira

Imagine comigo a seguinte cena:

“O lutador está no vestiário sentado em um banco frio, enquanto o seu mestre e treinador enrola as ataduras em sua mão direita. Sentindo o tecido que apertava o seu pulso, ele olha para a mão esquerda que já estava pronta, lembrando da responsabilidade em vencer aquele desafio. A continuidade da sua carreira dependia disso, e mais ainda, o seu casamento só aconteceria se ele conseguisse o contrato tão esperado. Por  isso ele tinha que vencer.

O anúncio da próxima luta ecoa pelos alto-falantes, chamando a atenção do atleta e confirmando a sua expectativa. O narrador chama pelo seu nome, enfatizando no timbre de sua voz o momento em que deveria se dirigir até a arena. Ele sai pela porta e seus olhos correm pela arquibancada encarando a multidão, enquanto seus ouvidos eram invadidos pelos gritos, aplausos e vaias que vinham por todos os lados.

O lutador caminha cadenciadamente até a arena e quando se aproxima vê a sua noiva e o seu irmão logo na primeira fileira de cadeiras. Sua cabeça gira, e o peso da responsabilidade o toma mais uma vez, seu coração e a respiração disparam. Sentindo-se com uma tonelada, ele entra no local do combate e seguindo a orientação do árbitro ocupa um dos corners disponíveis.

A voz do locutor invade mais uma vez os seus ouvidos, anunciando a entrada do seu adversário. Ele observa a reação do público e percebe que a aceitação do seu rival era bem maior do que a sua, e quando ele finalmente pisa a arena, lhe encara demonstrando serenidade e confiança. Por alguns instantes ele titubeia, mas logo decide retribuir a encarada demonstrando confiança em sua expressão.

Tenho que vencer!! - Pensa ele repetidas vezes enquanto sua mente insistia em lembrá-lo de todas as consequências caso não conseguisse.

O locutor começa a apresentar os dois lutadores e a pressão era cada vez maior. Uma obstinação irracional o toma, juntamente com uma enxurrada de cenas futuras em que ele se via depois da derrota.

O árbitro olha para ele e pergunta se está pronto. Seu coração quase salta pela boca antes de responder que sim. Momentos antes do gongo o lutador ouve a voz de sua noiva aos berros, procurando incentivá-lo em seu desafio.

O sino toca. Sua mente não para de bombardeá-lo com cenas, medos e sentimentos descontrolados. Seu adversário se aproxima e começa a golpeá-lo... em poucos instantes a derrota era uma realidade.”

O que é possível concluir com esse episódio na vida desse guerreiro, é que as emoções e pensamentos fora de controle foram a sua ruína. Afinal, como seria possível lutar bem, se a mente não estava presente naquele momento, para aquela finalidade. Como é possível lutar bem, se ao invés da mente estar focada na técnica e na estratégia, estava focada no medo, ou na fantasia.

Não quero dizer que a derrota é ruim, por que, às vezes ela é mais benéfica do que a vitória. Mas não me refiro a ser superado por alguém, me refiro a ser superado por você mesmo. O problema é não ter o controle emocional ou a concentração necessária para fazer o que foi planejado.

Isso o que aconteceu com o nosso personagem, acontece com todos nas mais variadas áreas da vida, e por isso é importante aprender a disciplinar os próprios pensamentos e emoções. E a meditação é um fantástico caminho para o desenvolvimento dessas habilidades.

No começo não será fácil, assim como não é fácil correr 50 quilômetros sem treinamento. Tem que ser aos poucos. Mas a persistência trás ganhos palpáveis, e resultados fenomenais.

Existem muitas técnicas de meditação, um reflexo das diversas escolas pelo mundo, mas independente de qual seja, um dos principais focos iniciais deve ser o foco no presente.

A prática que vou propor  trata-se de uma meditação ativa, que visa esse foco no presente. Ou seja, se você está dirigindo, esteja totalmente presente no processo de dirigir. Esteja concentrado no ato de acelerar, segurar o volante, utilizar o câmbio. Não deixe que a sua mente devaneie entre o passado, o futuro ou em fantasias. Seja qual for a atividade que você esteja realizando, procure ficar presente na ação.

Parece simples, mas essa difícil prática é o primeiro passo para o desenvolvimento da concentração, do controle emocional, da capacidade de auto-observação e a porta de entrada para vários outros benefícios.

Até o próximo artigo.

Oss

Nenhum comentário:

Postar um comentário