Por: Júlio César de Castro Ferreira
O nome Bruce Lee deixou uma marca
tão profunda na estória do cinema e das artes marciais que até hoje ele
desperta grande interesse entre artistas marciais e amantes do cinema.
Sua imagem ficou especialmente
associada ao cinema e às várias referências sobre sua genialidade na expressão
da sétima arte. Sendo assim, apenas uma pequena parte do público conhece os
aspectos desta mesma genialidade focada na expressão de sua arte marcial,
revolucionária para a sua época e muito diferente do que ele mostrava nas telas.
E uma parte ainda menor conhece a filosofia e espiritualidade que ele aplicava
em sua vida e ações. Uma filosofia marcial própria que ele denominou como Jeet
Kune Do.
Este artigo tem o objetivo de
apresentar ao leitor esses aspectos menos conhecidos do Mestre Lee Jun Fan
(nome chinês de batismo), além de um interessante paralelo entre a filosofia do
Jeet Kune Do e o Budo.
Quando Lee criou o Jeet Kune Do,
em 1965 , ele estava bem ciente que sua técnica marcial estava um passo à
frente dos outros lutadores. No aspecto marcial, o Jeet Kune Do orienta o seu
praticante a conhecer todos os estilos de luta que lhe for possível e absorver
de cada um deles o que for melhor par você mesmo, construindo assim a sua
própria arte marcial, o seu próprio estilo misto. Ele acreditava que não
deveria haver rigidez e limitação de técnicas, pois cada um é dotado com
características muito particulares, físicas, psicológicas e emocionais. Lee acreditava
que uma arte marcial única deveria se desenvolver no artista marcial, adaptada
para ele, e que o bom mestre deveria orientá-lo neste sentido, livrando-o de
sua influência direta. Ele dizia que: “A arte marcial perfeita
significa expressar a si mesmo honestamente.”
O estilo de Bruce Lee reunia
técnicas oriundas do Kung Fu Win Chun, Sambo, Boxe, Kali filipino, Savate,
Aikido, Kickboxing, dentre outros, que o colocava muito à frente dos lutadores
de sua época. Além disso, o mestre Lee era aficionado com exercícios físicos,
musculação e equipamentos de treinamento. Era muito normal ele criar seus próprios
aparelhos junto com seu aluno soldador James Lee.
No aspecto filosófico o Jee Kune
Do está muito pautado no Taoismo, que é a base filosófica de toda a sabedoria e
medicina chinesa. O símbolo do JDK é o principal símbolo do Tao, o Yin Yang,
rodeado por setas em movimento, que no sentido literal simboliza “equilíbrio e
evolução”. E para enfatizar esse aspecto espiritual /filosófico, ele começa a
escrever um livro em 1970, que só seria compilado e lançado após a sua morte em
1975, denominado o “Tao of Jeet Kune Do”. Lee deixava muito claro em seus textos que o
Jeet Kune Do não era uma arte marcial, mas sim uma filosofia marcial.
“Eu não acredito mais em estilos,
ou seja, eu não acredito que exista essa coisa como o “modo chinês” de lutar,
ou o “modo japonês” de lutar...
... os estilos tendem, não só a
separar os homens, porque eles têm suas próprias doutrinas que se tornaram
verdades absolutas, e você não pode mudá-las. Mas se você não tem estilo, você
pode dizer: Aqui estou eu como um ser humano. Como eu posso me expressar total
e completamente?” (Bruce Lee)
A tradução exata e literal de
Jeet Kune Do é: O caminho do punho interceptador. Porém o seu sentido
filosófico é muito mais profundo. Interceptar pode ser interpretado como “se
antecipar”, ou “evitar que algo continue sua trajetória”, literalmente uma “contra
ação”, que exige um alto grau de lucidez em relação ao cenário, e também que o
interceptador esteja um passo à frente em relação ao que será interceptado. Jeet
Kune Do é a síntese, marcial e filosófica, que ensina ao praticante agir como a
água, como o próprio Mestre Lee dizia:
“Esvazie sua mente de modelos e
formas... Seja amorfo, sem forma, como água. Você coloca a água em uma xícara e
ela se torna a xícara, você coloca a água em uma garrafa e ela se torna a
garrafa, você põe a água em um bule e ela se torna o bule. A água pode fluir,
ou pode destruir. Seja água meu amigo.”
Link de uma entrevista dublada
com Bruce Lee falando sobe este assunto:
Para terminar o artigo gostaria
de deixar uma frase atribuída a Bruce Lee, que independente de realmente ser
sua ou não, sem dúvida representa a filosofia marcial chamada Jeet Kune Do,
assim como está bem alinhada com a essência do Budo.
“O grade lutador destrói seus
próprios limites e não um adversário. Aqui vence quem derrota seu oponente, mas
a violência nunca é um fim em si mesmo. Afinal, viver realmente é viver para os
outros.” (Bruce Lee)
Oss
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