Por Julio César de Castro Ferreira
Imagine comigo a seguinte cena:
“O lutador está no vestiário
sentado em um banco frio, enquanto o seu mestre e treinador enrola as ataduras
em sua mão direita. Sentindo o tecido que apertava o seu pulso, ele olha para a
mão esquerda que já estava pronta, lembrando da responsabilidade em vencer
aquele desafio. A continuidade da sua carreira dependia disso, e mais ainda, o
seu casamento só aconteceria se ele conseguisse o contrato tão esperado.
Por isso ele tinha que vencer.
O anúncio da próxima luta ecoa
pelos alto-falantes, chamando a atenção do atleta e confirmando a sua
expectativa. O narrador chama pelo seu nome, enfatizando no timbre de sua voz o
momento em que deveria se dirigir até a arena. Ele sai pela porta e seus olhos
correm pela arquibancada encarando a multidão, enquanto seus ouvidos eram
invadidos pelos gritos, aplausos e vaias que vinham por todos os lados.
O lutador caminha cadenciadamente
até a arena e quando se aproxima vê a sua noiva e o seu irmão logo na primeira
fileira de cadeiras. Sua cabeça gira, e o peso da responsabilidade o toma mais
uma vez, seu coração e a respiração disparam. Sentindo-se com uma tonelada, ele
entra no local do combate e seguindo a orientação do árbitro ocupa um dos
corners disponíveis.
A voz do locutor invade mais uma
vez os seus ouvidos, anunciando a entrada do seu adversário. Ele observa a
reação do público e percebe que a aceitação do seu rival era bem maior do que a
sua, e quando ele finalmente pisa a arena, lhe encara demonstrando serenidade e
confiança. Por alguns instantes ele titubeia, mas logo decide retribuir a
encarada demonstrando confiança em sua expressão.
Tenho que vencer!! - Pensa ele repetidas vezes enquanto sua mente
insistia em lembrá-lo de todas as consequências caso não conseguisse.
O locutor começa a apresentar os
dois lutadores e a pressão era cada vez maior. Uma obstinação irracional o
toma, juntamente com uma enxurrada de cenas futuras em que ele se via depois da
derrota.
O árbitro olha para ele e
pergunta se está pronto. Seu coração quase salta pela boca antes de responder
que sim. Momentos antes do gongo o lutador ouve a voz de sua noiva aos berros,
procurando incentivá-lo em seu desafio.
O sino toca. Sua mente não para
de bombardeá-lo com cenas, medos e sentimentos descontrolados. Seu adversário
se aproxima e começa a golpeá-lo... em poucos instantes a derrota era uma
realidade.”
O que é possível concluir com esse episódio na vida desse
guerreiro, é que as emoções e pensamentos fora de controle foram a sua ruína.
Afinal, como seria possível lutar bem, se a mente não estava presente naquele
momento, para aquela finalidade. Como é possível lutar bem, se ao invés da
mente estar focada na técnica e na estratégia, estava focada no medo, ou na
fantasia.
Não quero dizer que a derrota é ruim, por que, às vezes ela
é mais benéfica do que a vitória. Mas não me refiro a ser superado por alguém,
me refiro a ser superado por você mesmo. O problema é não ter o controle
emocional ou a concentração necessária para fazer o que foi planejado.
Isso o que aconteceu com o nosso personagem, acontece com
todos nas mais variadas áreas da vida, e por isso é importante aprender a
disciplinar os próprios pensamentos e emoções. E a meditação é um fantástico
caminho para o desenvolvimento dessas habilidades.
No começo não será fácil, assim como não é fácil correr 50
quilômetros sem treinamento. Tem que ser aos poucos. Mas a persistência trás
ganhos palpáveis, e resultados fenomenais.
Existem muitas técnicas de meditação, um reflexo das
diversas escolas pelo mundo, mas independente de qual seja, um dos principais
focos iniciais deve ser o foco no presente.
A prática que vou propor
trata-se de uma meditação ativa, que visa esse foco no presente. Ou
seja, se você está dirigindo, esteja totalmente presente no processo de
dirigir. Esteja concentrado no ato de acelerar, segurar o volante, utilizar o
câmbio. Não deixe que a sua mente devaneie entre o passado, o futuro ou em
fantasias. Seja qual for a atividade que você esteja realizando, procure ficar
presente na ação.
Parece simples, mas essa difícil prática é o primeiro passo
para o desenvolvimento da concentração, do controle emocional, da capacidade de
auto-observação e a porta de entrada para vários outros benefícios.
Até o próximo artigo.
Oss
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