O Budo - Por Júlio César

Budo – O código do guerreiro moderno

Budo é um composto da raiz bu (em japonês: 武 :ぶ), que significa a guerra ou as artes marciais, e do (em japonês: 道 :どう), o caminho de sentido ou forma. Especificamente, Do é derivada do sânscrito marga budista (o que significa o "caminho" para a iluminação). (Fonte: Wikipédia)

Inicialmente é importante enfatizar que a compreensão do Budo está além das palavras, que são limitadas diante da sua inexpressável realidade, pois compreender o Budo está diretamente relacionado a vivenciar a experiência do guerreiro espiritual. Porém, mesmo diante deste obstáculo da percepção, este texto se propõe a uma descrição conceitual desta fantástica caminhada marcial.

Para se iniciar um entendimento sobre o Budo é fundamental conhecer um pouco sobre o Bushido, o código de conduta samurai. Sua tradução literal é “caminho do guerreiro”, enquanto o significado de samurai é simplesmente “servir”.

O Bushido está fortemente pautado em uma base espiritual, assim como todas as artes marciais tradicionais estão diretamente ligadas a caminhada espiritual rumo à iluminação, passando pelo processode reconhecimento da guerra interna. Podemos citar alguns exemplos conhecidos de origem japonesa, como o Karate-Do, Judô e Aikido, assim como as artes marciais chinesas que também estão diretamente ligadas ao caminho espiritual, embasadas no Tao, como é o caso do Kung-Fu e do Wushu. Todas seguem o sistema de discipulado e sucessão, onde o mestre pode aceitar um discípulo que passa a ser seu seguidor e aprendiz, assim como funcionam em alguns sistemas espirituais.

O Bushido dispõe de um conjunto de disciplinas marciais denominadas como bujutsu, e que no passado só podiam ser treinadas pelos bushi (ou samurais), visando seu uso em batalha, sendo as mais conhecidas o kenjutsu (técnica da espada), iaijutsu (técnica de desembainhar a espada), sojutsu (técnica da lança), kyujutsu (técnica do arco), naginatajutsu (técnica da alabarda), jujutsu (técnica suave), aikijutsu (técnica suave com harmonização do ki), entre outros.

Porém, a partir da pacificação do Japão no século XVII, o bujutsu perde a sua finalidade militar e visando se adaptar aos novos tempos de paz e manter sua milenar herança, acaba por receber uma conotação mais filosófica, dando assim origem ao Budo.

O Budo, originado no Japão, se propõe a ser o atual código de conduta dos guerreiros modernos, um caminho que pode ser transcendental em sua essência, e pode ser considerada a evolução, ou adaptação direta do secular Bushido.

A aplicação prática está diretamente relacionada a trabalhar aspectos da agressividade inerente que o ser humano carrega em seu interior, que muitas vezes, o leva a conflitos internos e externos. As vivências físicas, mentais, emocionais e energéticas, possibilitam ao praticante um maior equilíbrio nessas áreas da sua estrutura pessoal, e conseqüentemente um maior equilíbrio espiritual, nos relacionamentos e na vida.

Assim como toda caminhada espiritual o caminhante está submetido à dualidade, e pode ser seduzido por armadilhas ao longo do caminho, como é o caso da competição, do poder, do orgulho, da vaidade, da crueldade, dentre muitos outros, direcionando-o para uma estrada mais sombria e egoísta. Esta distorção do sentido do Budo, atualmente tem gerado muito mais “atletas marciais” do que “artistas marciais”, especialmente por que este aspecto transcendental não vem sendo sequer citado nos centros de treinamento marcial pelo mundo.

Porém, o legítimo adepto do Budo compreende que, para ser finalmente possível sintonizar a essência transcendental, é fundamental que o seu treinamento seja focado no desenvolvimento dos potencias físicos, mentais, emocionais e energéticos, apenas com a finalidade de subjugar o seu próprio ego. Pautando a sua caminhada em uma sólida disciplina, aplicando ética e conduta altruísta em serviços desinteressados ao próximo, colocando os seus talentos a serviço do bem, sem desejar nenhum tipo de recompensa daqueles que são beneficiados.

Para aquele que está aberto, o Budo ensina que a beleza das artes marciais está em fazer delas um verdadeiro instrumento a serviço do bem e da justiça, ensina o verdadeiro significado da guerra, que finalmente leva o guerreiro a se desidentificar com a batalha, resultando em uma sublime transcendência da competição acirrada para a colaboração amorosa e pacifica. O caminhante se dá conta que mais importante do que o objetivo final é o caminho que está sendo percorrido no agora, e aberto a orientação do Divino, se entrega às suas orientações para que a sua missão pessoal possa ser realizada e a paz verdadeiramente se estabeleça.

Oss

Júlio César